Exu o Grande Arcano.
– Quem é esta misteriosa Divindade que gera tanta polêmica, e distorções de seu real significado e função, como um ser Divino e cósmico?
– Aonde começou o preconceito religioso e até cultural, acerca não só de Exú como muitas outras divindades, e religiões consideradas Pagãs?
– Aonde e como tudo começou?
Escultura de Exu. Livro Orixás, autor: Pierre Verger.
Os antigos nativos da grande mãe África, também conhecidos como o povo Yoruba ou Nagôs, viviam em plena harmonia, sem crise econômica e fome, e em pleno equilíbrio com a natureza e suas crenças, até que guerras (para variar guerras, pelo poder), internas entre tribos, cidades e confederações, a colonização Islâmica e o drástico e cruel tráfico negreiro, começaram a retirar a harmonia deste antigo e belo povo, os Yorubas, Nagôs.
Suas crenças, costumes e religião, chegaram até nosso pais através do que chamamos de diáspora, que ocorreu através do imenso e bárbaro tráfico negreiro, o ouro negro.
O povo negro escravizado se espalhou por todo o território de nosso pais, misturando-se, vieram de várias regiões, muitas vezes eram até de tribos inimigas, adoravam divindades diferentes, em África o culto dos orixás é regional.
O domínio do negro pela força, foi um grande absurdo Histórico, um ato nada Humano diga-se de passagem.
A Coroa de Portugal, assim que chegaram os primeiros negros em terras Brasileiras, criou uma lei que, no seu primeiro artigo, determina que, todos os negros deveriam ser batizados na religião Católica e se acaso o batismo não fosse realizado em um prazo de cinco anos, as peças como eram chamados os escravos, como se fossem objetos de uso pessoal, deveriam ser vendidas e o valor seria revertido a Coroa.
Havia a tese que a África era uma terra de maldições, esta tese foi defendida por vários teólogos cristãos.
Em vários Sermões o Padre Antônio Vieira (XI e XXVII), afirma que a África é o inferno onde Deus se digna a retirar os condenados, pelo purgatório da escravidão nas Américas, para finalmente alcançarem o paraíso, o mesmo padre em sermão ao comentar o texto de São Paulo I Cor 12, 13, disse entendo de que os africanos, sendo batizados antes do embarque da África para a América, deviam agradecer a Deus por terem escapado da terra natal, onde viviam como pagãos entregues ao poder do Diabo.
Estes não foram os únicos comentários de teólogos da igreja Católica que não merecem ser mais comentados.
Documentos Históricos relacionado a escravidão também foram queimados, desaparecendo muitos registros Históricos.
Afinal quem é Exú este Grande Orixá.
Infelizmente Exú perdeu seu verdadeiro significado ao chegar no Brasil, os negros escravos, tiveram que sincretizar com santos católicos seus Orixás, para poderem praticar sua religião, Exú foi quem mais sofreu neste processo, a igreja e os católicos associaram Exú ao Diabo, a coisa ruim.
Na crença Yoruba, Olórum Deus Criador, não possui um opositor a ele como a maioria das religiões. O mal e um sentimento humano. Exú seria o seu fiscal, guardião dos portais entre o Òrun (Além) e o Àiyé (Terra), além de ser o guardião do corpo neste aspecto é chamado de Bara, é o mensageiro dos Orixás. Exú o princípio dinâmico que habita dentro de nós, esta força que impulsiona a vida. Tão importante e fundamental que todos Orixás tem seu Exú, não como escravo como alguns Candomblés acreditam.
Muitos mitos foram criados a respeito deste grande arquétipo, o Orixá Exú, ele tem muitos poucos filhos aqui no Àiyé, muitos religiosos confundem Exú Orixá com os compadres e comadres (Tranca Rua, Veludo, Caveira, Maria Padilha, Mulambo etc) como eram chamados pelos mais antigos, Exú Orixá é uma coisa totalmente diferente. Os Orixás ancestrais ou Irunmales não fazem parte do processo de reencarnação são seres divinos criados por Olórum para ajudarem a administrar sua criação, são Deuses do fogo, ar, trovão, terra, morte, tempo, destino, etc, não fazem parte do sistema de reencarnação. Os nossos maravilhosos comadres e compadres, hoje também chamados de Exús, fazem parte do sistema da reencarnação.
Sem Exú o culto dos Orixás não existiria, ele é o mensageiro dos jogos oraculares de Ifá, é ele que vem buscar e levar as oferendas para os Orixás, e estas até Olódùmarè Deus Supremo, é o primeiro a ser saudado no culto dos Orixás.
Tem um ditado no culto que diz:
Biri-biri bò won lójú.
Ògbèri nko mo Màriwo.
Trevas cobrem seus olhos
O não iniciado não pode conhecer o mistério de Màriwo.
Através de séculos o culto dos orixás mantém uma tradição oral, que só o iniciado tem acesso aos segredos, do culto de matizes afro-brasileiras. Os sacerdotes mais antigos a sua grande maioria são contra a quebra de Erós (segredos), mas uma outra parte dos seus adeptos são favoráveis a determinadas informações aonde, são retirados alguns mitos, com o objetivo de corrigir erros relacionado a prática do culto. Sabemos que hoje em dia uma grande parte dos terreiros de Candomblé principalmente em São Paulo, cometem muitos erros prejudicando muito, mas muito mesmo, em vez de ajudar as pessoas que vão procurar ajuda nos Iles (casas) de culto dos Orixás, me refiro a São Paulo – S.P. por que não conheço a quantas andam o Culto dos |Orixás em outras regiões, seria interessante vocês questionarem antes de irem procurar um zelador em sua região.
Os sacerdotes muitas vezes não tem culpa aprendem errado com seus zeladores de santo e passam este erro adiante, muitas vezes sem saber que estão cometendo e promovendo um desastre na vida das pessoas. Preocupados com este fato muitos sacerdotes estão trabalhando para esclarecer, ensinar, e retirar mitos errôneos com relação a práticas do culto, para isso estamos até quebrando alguns Erós (segredos), para poder ajudar os iniciados corrigirem seus erros, também ajudando aquelas pessoas que gostam e procuram ajuda nas casas de culto, saberem selecionar melhor os seus futuros zeladores.
Voltando a Exú o grande Orixá, vejamos como o erro começou:
Èsù é um orixá ou um ébora de múltiplos e contraditórios aspectos, o que nos torna muito difícil em defini-lo. Quando os padres jesuítas chegaram em África, associaram Exú ao Diabo, e ao Deus da fornicação, idéia totalmente errônea. Esta associação foi feita porque Exú também tem um caráter irascível, ele gosta de suscitar disputas, provocar acidentes e calamidades públicas e privadas. É astucioso, grosseiro, vaidoso.
Por um outro lado, segundo as próprias palavras de Ifá, segundo a tese antropologia de J.Elbein dos Santos:
“cada um tem seu próprio Èsù e seu próprio Olórun (Deus Criador), em seu corpo” ou “cada ser humano tem seu Èsù individual, cada cidade, cada casa (linhagem), casa entidade, cada coisa e cada ser tem seu próprio Èsù, e mais, “se alguém não tivesse seu Èsù em seu corpo, não poderia existir, não saberia que estava vivo, porque é compulsório que cada um tenha seu Èsù individual”. Olórum representa o princípio da existência genérica, Èsù é o principio da existência diferenciada. Assim foi criado Exú por Olódumarè, complexo e o grande arcano do culto Eró (segredo), guardado a sete chaves ate hoje.
Representação de Èsù em África.
Imagem do Livro: Orixás, autor, Pierre Verger.
Uns dos motivos pelo qual Exú foi associado com o Deus da Fornicação o Diabo. Mas os estudiosos e pesquisadores sérios da história da religião, sabem que o falo é símbolo de força, princípio masculino que gera a vida, e foi um símbolo muito utilizado pelos povos primitivos, de todo o velho mundo, da África até, as civilizações Indo-européias, reconheciam o falo como um símbolo de força, a força que gera a vida.
Veja o que a Historia do Odù (signo) Ogbè diz quando apareceu para Orúnmìlà:
Níjó ti nlo rèé tóro omo,
Lódó Òrisà igbò-wújì.
No dia em que ele foi requerer uma criança
A Òrìsà Igbò-wúji (Òrinsàlà).
A história conta que nas remotas origens, Olódúmarè e Òrìsànlá estavam começando a criar o ser humano. Assim criaram Èsù, que ficou forte, mais difícil que seus criadores:
“Èsù si le ju àwon mejeli lo”.
Olódùmarè enviou Èsù para viver com Òrìnsàlá; este colocou-o à entrada de sua morada e o enviava como seu representante para efetuar todos os trabalhos necessários. Foi então que Òrúnmìlà, desejoso de Ter um filho, foi pedir um a Òrìsànlá. Este lhe diz que ainda não tinha acabado o trabalho de criar seres e que deveria voltar um mês mais tarde. Òrúnmìlà insistiu, impacientou-se querendo a qualquer preço levar um filho consigo. Òrìsàlá repetiu que ainda não tinha nenhum. Então perguntou:
“Que é daquele que vi à entrada de sua casa?”
É aquele mesmo que ele quer. Òrìsalá lhe explicou que aquele não era precisamente alguém que pudesse ser criado e mimado no àiyé. Mas Òrúnmìlà insistiu tanto que Òsàlá acabou por aquiescer. Òrúnmìlà deveria colocar suas mãos em Èsù e, de volta ao àiyé, manter relações com sua mulher Yebìirú, que concebera um filho. Doze meses mais tarde, ela deu a luz um filho homem e, porque Òsàlá dissera que a criança seria Alágbára, Senhor do Poder, Òrúnmìlà decidiu chamá-la Elégbára. Assim desde que Òrúnmìlà pronunciou seu nome a criança, Èsù mesmo respondeu e disse:
Todos os meus filhos Esus, que abitam os noves Orun (aléns), seriam seus representantes e Òrúnmìlà poderia consultá-los cada vez que fosse necessário enviá-los a executar os trabalhos que ele lhes ordenasse fazer, como se fossem seus verdadeiros filhos. Èsù assegurou-lhe que seria ele mesmo quem responderia por meio dos dos seus assentamentos, cada vez que o chamasse.
No sitema Africano da pratica de Ifá, seja ela o Jogo de Buzios, Opele-Ifá, Ikin-Ifá, dentre outros metodos, é Esu que é o mensageiro de Orunmila-Ifá, o Deus do Destino, e de todos os outros Orixás.
Nos candombles no Brasil, o Jogo de Buzios e atrabuido a Divindade Osun, Osun formula as perguntas e Esu vai buscar as respostas, com Orunmila-Ifá e todos os outros Orixás.
Assim e Èsù, polemico, complexo e ao mesmo tempo simples.
Muitos de seus segredos são guardados até hoje, pelos sacerdotes sérios, só os iniciados tem acesso a estes Erós. Devo advertir que Èsù pode se apresentar com sua energia destrutiva, só um iniciado devidamente treinado pode apaziguar, esta energia tão forte. Muitas pessoas que não possuem iniciação no culto dos Orixás, seja no Ilê Orunmila, Ilê Orixá ou Ilê Egum, andam tentando evocar Èsù Orixá e manipular esta grandiosa força, tentativa esta em vão por que Èsù só atende os iniciados e os adeptos dos culto dos Orixás. São necessários certas cantigas, orações, saudações e gestos, para que poça fazer a sua evocação. É através de seu assentamento, feito por outro iniciado, que ele é cultuado e reverenciado.
Dizer a verdade para aqueles que não podem entendê-la, é mentir para eles.
Desvelar a Verdade para estas pessoas, é profaná-la.
O que as águas não refletem, na superficialidade não reside.
Autor: Babalawo Ifa Olaifa tunde Alberto Junior
albertojunior404@hotmail.com