Orunmilá disputa com seu escravo
Quem é o melhor adivinho.
Orunmilá era considerado o maior adivinho do lugar.
Um dia, sua mulher pediu que comprasse um escravo, cujo preço fosse de dezesseis sacos de búzios.
Quando rumava para o mercado, onde ele atendia sua clientela, encontrou uns pescadores que pescavam.
Orunmilá disse-lhes ser capaz de adivinhar quantos eram os peixes já pescados.
E assim fez e ganhou para si duzentos peixe, que mandou fossem enterrados, devendo-se marcar o local com folhas verdes.
Mais para frente, encontrou caçadores, que instalavam armadilhas de preá.
Orunmilá disse-lhes ser capaz de adivinhar o número de preás que já tinham caçado.
Como da vez primeira, adivinhou e ganhou duzentos preás num sítio que marcou com folhas verdes.
Então, quando chegou à feira, comprou um menino, que lhe disse exatamente a importância de que dispunha Orunmilá para comprá-lo.
Orunmilá pediu que uma pessoa o guardasse até que voltasse para apanhá-lo.
O menino, porém, vendo seu dono afastar-se, ontratou carregadores e os levou até os lugares onde estavam os preás e os peixes.
Juntou tudo e rumou para a casa de Orunmilá.
Lá, o menino organizou uma festa para receber seu amo, convidando os amigos e parentes de Orunmilá.
Quando Orunmilá regressou à feira, nada do menino.
Teve receio de regressar à casa sem dinheiro e sem o escravo,mas teve que voltar.
Quando chegava em casa triste Orunmilá, menino correu ao seu encontro e o tranquilizou.
Orunmilá maravilhou-se com o seu escravo.
Desde que chegara à casa de Orunmilá, o menino fazia muitos prodígios.
Um dia sua fama chegou ao ouvido do rei do lugar, que chamou Orunmilá e seu escravo à sua presença, desejando saber qual dos dois era o melhor adivinho. Propôs o rei um confronto entre os dois e eles aceitaram.
O rei, então, encerrou cem homens numa sala inviolável e mandou chamar Orunmilá e o menino à sua presença.
Quando inquiridos sobre o que se guardava na câmara selada, o menino respondeu que havia cem homens emparedados.
O rei confirmou o que o menino proclamou, mas Orunmilá o contradisse, pois para ele os prisioneiros eram duzentos e um e não cem.
Como o rei duvidasse do poder de adivinhação de Orunmilá, o adivinho disse que em cinco dias viria abrir o quarto e que então provaria o que afirmara.
O rei concordou e todos partiram.
Assim que chegou em casa, Orunmilá consultou Ifá e fez um ebó.
No prazo de cinco dias, com hora marcada, Orunmilá mandou que se abrisse a cela e de lá saíram cem homens e cada um deles trazia no ombro um filho.
E por fim saiu um outro homem, que parecia ser o pai de todos.
Somavam duzentos e um!
Todos se admiraram e o rei disse que, enquanto nascesse gente na terra, não haveria outro homem tão sábio como Orunmilá.
“Mitologia dos Orixás” Reginaldo Prandi.
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